quarta-feira, 28 de julho de 2010

Noite Calada


Ele me disse todas aquelas palavras
ao telefone. Desligou.
Eu procurava palavras. Chorava...
Foi quando meu amigo Carlos bateu
à porta. Abri.
As palavras tinham chegado, ele viu
o meu estado:
“A poesia é incomunicável. Fique torto
no seu canto. Não ame.”
Foi uma beleza, eu precisava de poucas
palavras. Ele tinha tantas.
Mais alguém à porta. Era Cecília, linda,
Aqueles olhos tristes...
Nós, Carlos e mais algumas palavras.
Ele se foi.
Nós e algumas sinceras palavras.
Ceci me contou que me procura em suas noites.
Não; foi assim que me disse:
“Vem a lua, vem retiro as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços cheios da tua figura”.
Nós e nenhuma palavra.
Beijo, carinho, desejo.
Já era noite, não via Cecília.
Fiquei só e calada. O telefone tocou era Vinícius.
Nem alô me disse, disparou:
“É claro que a vida é boa
E a alegria a única indizível
Emoção. É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas
Simples. É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas, acontece que eu sou triste....”
Entendí aquelas palavras.
Apaguei a luz e ilhada por livros
Não sentí falta de mais nada.



Poemas citados : “Dialética” de Vinícius de Moraes, e trechos de “Segredo” de Carlos Drummond de Andrade e “Reinvenção” de Cecília Meireles

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