segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

SOMOS OU NÃO SOMOS O SEXO FORTE ?

0 comentários
Quantas Joanas , Renatas, Aparecidas, Dulces, Marias devem ser humilhadas, ameaçadas, agredidas e mortas para que , nós mulheres, possamos viver com segurança, proteção e dignidade ?
Ontem foi uma Maria, hoje é outra : a Maria da Penha não pode proteger a Maria Islaine.
No ano de 1983, Maria da Penha, biofarmacêutica brasileira, era casada. Seu marido, o professor universitário colombiano Marco Antonio Heredia Viveros, tentou matá-la duas vezes. Na primeira vez atirou contra ela, simulando um assalto, e na segunda tentou eletrocutá-la. Por conta das agressões sofridas, Penha ficou paraplégica. Nove anos depois, seu agressor foi condenado a oito anos de prisão. Por meio de recursos jurídicos, ficou preso por dois anos. Solto em 2002,hoje está livre.
A história, luta e conquista de Maria da Penha não puderam salvar Maria Islaine.
No ano de 2010, Maria Islaine, 31 anos, foi assassinada pelo ex-marido. O crime aconteceu diante de câmeras instaladas no salão de beleza que Maria Islaine era proprietária e na presença de mais três mulheres.
Maria Islaine havia registrado oito boletins de ocorrência contra o ex-marido, que a ameaçava frequentemente. Também gravou um pedido de socorro à polícia: "Tenho uma intimação que a juíza expediu por causa do meu marido, que me agrediu. Eu o levei na Lei Maria da Penha. Era para ele ser expulso de casa. O oficial veio, tirou de casa, só que ele está aqui e ainda está me ameaçando" . O assassino já havia jogado uma bomba contra o portão do salão de beleza há cerca de quatro meses.
Maria Islaine, recorreu à lei Maria da Penha. Ela tentou se proteger como pode, instalando câmeras no seu local de trabalho, mostrando que realmente estava sofrendo violência, com ameaças e atentados. Mesmo com pedidos de socorro e boletins de ocorrência, a polícia não levou esta mulher a sério, prevalecendo o conceito da "briga doméstica", ou a máxima de que "em briga de marido e mulher não se mete a colher".
Em 7 de agosto de 2006, foi sancionada pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a Lei Maria da Penha,na qual há aumento no rigor das punições às agressões contra a mulher, quando ocorridas no ambiente doméstico ou familiar.
Quando eu digo que Maria da Penha não pode impedir a morte de Maria Islaine, não falo da mulher.
Maria da Penha foi longe, lutou , e nos sentimos vitoriosas com a sanção de uma Lei que nos proteja.
Porém , se tratando de Lei , falamos em Justiça, aquela que em nosso país é cega, tardia, falha, fraca.
E falando em força registro aqui uma foto dos últimos minutos de vida de Maria Islaine. Que mesmo abordada brutalmente por um homem ,covarde, com uma arma em punho, aquela mulher era a personificação da Coragem. Essa imagem me emociona e me dá orgulho.


Por isso,tenho certeza de que nossa luta deve continuar e devemos estar sempre conscientes do que nos cerca , mas principalmente , conscientes do que vive dentro de nós.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Todas as Cores da Dor (ao meu pai)

0 comentários
Infortunadamente a memória alegre me falha.
Da triste infantil lembrança, esmiuçada e rala,
Trago o joguete (da vida?) ganhado sem data especial.
Não mais imprevisto que o abraço resquicioso de um homem mal.

Em minha tenra juventude a alegria de abraços mil
Carregam a verdadeira essência de uma imagem pueril.
Atores, ardores, rancores? Tudo que vil antes não via, agora
Surgira. Partira a mentira, era o medo inóculo da solidão na boa hora.

Sobrara a visão clara de que me restavam migalhas premeditadas,
Restos transformados em ceia para quem as cata embaixo das mesas.
Se me faltaram amores, tinha prestado favores no conto que se ia.
Nova dor infinda quando busco e não vejo fraternos em minha agonia.

Deitada na cama larga, as horas da longa espera na noite fria,
Numa imensa devoção aqueço o leito para onde ninguém viria.
Certo de que se alguém viesse para aumentar o grau de meu coração
Gozaria a tal noite em meu cômodo peito e a paga seria a traição

Vitória esperava, com diferença de placar para o meu altruísmo,
Elogio pelo simples fato de, todavia não ter cedido ao abismo.
Sobre a mais grandiosa de todas as obras, da construção participei
E em troca agressões e abandono recebi de quem edifiquei.

Já em tempo tão distante, conto as chagas que estão incutidas em meu corpo.
Para que eu não as sinta, nem as nomeie com nomes conhecidos muito ou pouco,
Acaricio as feridas num tempo reservado que sei que me é tão escasso,
Observando apenas as cores, o brilho e nuance de um artista relapso.

Aprisionada (por eles ou por mim?) me encontro neste quarto vazio
Espio as paredes manchadas sem bem entender como ainda vivo.
Sem saber exatamente se o Mal ,de tal complicado nome, que trago é letal,
Aguardo duro diagnóstico que descreve uma futura forma fetal.

Não sei ao certo se esta é realmente a história que vivi
Ou apenas personagens de um único livro que lentamente li.
Às vezes, me vem a certeza de que sou eu a estranha autora
Deveras é longe e não me vejo nem leitora, nem a mulher pecadora.

Se, por acaso, eu pudesse escrever ou reescrever, faria breve.
Escuto o incentivo de meu generoso Pai com voz leve.
Ansiosa por uma história de sucesso, começo assim para que se faça jus
E disse Deus Haja luz em tua vida. E houve luz.

Na última página do livro com nova capa, ouve-se a gargalhada de criança
Que abruptamente, de um salto, com um beijo meu sorriso alcança
Aponta o roxo, amarelo, azul e vermelho de meus joelhos de pele carcomida
Cores de legítimas dores destes joelhos gratos e prostrados no jardim de minha refeita vida .

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

"Cuide-se"

0 comentários
O e-mail em que Grégoire Bouillier rompe com Sophie Calle traduzido por T. Pinheiro

Tive medo de responder seu último email, porém sabia que seria muito mais díficil encará-la frente a frente. Por isso, criei “coragem” e decidí escrever; seria mais fácil pra mim.
Você já pôde notar que não estou bem ultimamente. Não aguento mais fingir o tempo todo. Sinto um incômodo terrível, porém minha covardia foi maior e empurrei esta história com a barriga durante todo este tempo.Quando nos conhecemos, você, sabendo do meu duvidoso caráter, exigiu fidelidade. Como bom conquistador apaixonado aceitei tal exigência, mas nâo por muito tempo.
Na verdade achei que conseguiria;amava ser tâo amado por uma mulher que sabia quem eu era. Pensei que sendo amado por uma mulher forte e inteligente, eu poderia me sentir satisfeito.Mas não. Sabia que nem meu trabalho me faria esquecer as “outras”. Não resistí, e em pouco tempo estava eu envolto em outros braços. Tive que esconder, mentí, pois também te desejava e por isso não queria te perder.
Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente.Quando você me disse isso, mais uma vez, tive medo. Estava envolvido por você, uma mulher jovem e desejável, apesar de ainda assim ser muito mais velha que eu. Essa imposição me pareceu desastrosa, injusta (já que você ainda via B., R.,…) e incompreensível (obviamente…).Mas, nosso relacionamento se desgastou, os anos se passaram e você não me parecia tão desejável quanto antes. Por isso, sei que das imposições que você me fez, deixar de ser seu amigo será a única que poderei cumprir e de bom grado.Claro que eu prefiro que você me ame o resto da sua vida, faria muito bem ao meu ego, mas com certeza este amor não me faria voltar atrás.
Cansei da farsa, depois deste email você deve saber que para nosso caso nâo há remédio.Mesmo com você ainda me amando tanto. Não me pergunte porque este surto de sinceridade, sabemos que os homens não são sinceros.
Óbvio que eu preferia sair da história como bom moço, mas, desta história eu não fui o autor e não pude dar um rumo diferente a ela.

“Cuide-se”

Para Lucilene

"Cuide-se"

0 comentários

O e-mail em que Grégoire Bouillier rompe com Sophie Calle

"Há algum tempo, venho querendo responder seu último e-mail.Na verdade, preferia dizer o que tenho a dizer de viva voz.No entanto, vou fazê-lo por escrito.
Você já pôde notar que não estou bem ultimamente. É como se não me reconhecesse em minha própria existência. Sinto uma espécie de angústia terrível, contra a qual não consigo fazer grande coisa, exceto seguir adiante para tentar superá-la. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a 'quarta'. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as 'outras', não achando logicamente um meio de vê-las sem transformar você em uma delas.
Pensei que isso bastasse. Pensei que amar você e que o seu amor — o mais benéfico que jamais tive — seriam suficientes. Pensei que assim aquietaria a angústia que me faz sempre querer buscar novos horizontes e me impede de ser tranquilo ou simplesmente feliz e 'generoso'. Pensei que a escrita seria um remédio, que meu desassossego se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições nem sequer de lhe explicar o estado em que mergulhei. Então, nesta semana, comecei a procurar as 'outras'. Sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Nunca menti para você e não é agora que vou começar.
Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…). Com isso, jamais poderia me tornar seu amigo. Você pode, então, avaliar a importância de minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante de sua vontade, ainda que deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre os seres e a doçura com que você me trata sejam coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você do modo que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá.
Mas hoje seria a pior das farsas manter uma situação que, você sabe tão bem quanto eu, se tornou irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.
Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.
“Cuide-se."