Um pacote sem distintivo
Pacote, não, embrulho, adornado
Cheio de fita, laço, significativo
Perfumado e com flores decorado
Surpreendentemente, entregue em mãos
Encabulada, o recebí, certa noite
Não esperava e fui pega de supetão
Como algo que chega, de repente como a morte
Mas, não havia “passagem” alguma
Nem tampouco transformação
Era, certamente, o presente duma
Palpitação de um certo coração
Eu, pequena, furtiva, não conseguia
Permanecer com regalo em mãos
Que de tão pesado, quase me doía
Podia, distraídamente, derrubá-lo ao chão
Quando, apropriadamente, o abrí
Ví seu tão poderoso conteúdo
Sem plantar tal semente, como a colhi?
Sem pestanejar, o devolví com laço e tudo
Passado tanto tempo, sei
Que o pesado conteúdo não era de cimento
Era algo que não pude ter comigo, tentei
Era o teu, que devolvi junto com meu sentimento
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