segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Machado Assim...

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Nascido filho de mulato carioca
Que ganhava a vida pintando parede
Machado casou-se com portuguesa senhora
E grande inspiração com Carolina obteve

Seguindo os passos de seu pai
Exímio pintor ele se tornou
E de maneira minuciosa
Seu país retratou

Frequentou,trabalhando toda a infância,
Apenas a escola primária
Foi nomeado presidente da Academia
Pois não levava uma vida secundária

Foi Machado, crítico literário,
Crítico teatral e jornalista
Foi também teatrólogo, poeta
Romancista e contista

Foi Machado "Ressureição", "Helena"
"Iaiá Garcia" e "A mão e a Luva"
Foit também "Memórias Póstumas
De Brás Cubas"

Foi "Quincas Borba", "Dom Casmurro"
"Esaú e Jacó" e "Memorial de Aires"
Foi "Contos Fluminenses" e "Papéis Avulsos"
Todos eles pairando pelos ares

Foi "O alienista" a assistir a "Missa do Galo"
Mesmo assim não deixou de visitar "A cartomante"
Para saber "A teoria do Medalhão"
Passaria até uma "Noite de Almirante"

Foi também consultar "O Espelho"
Antes de fazer "Cantigas de Esponsais"
Viu a "Sereníssima República
E deixou a "Verba Testamentária"

Agradeçam por dividir com Machado
A mesma terra e o mesmo chão
E lamentem por lerem esta história
Pela minha e não pela sua mão

(Publicado há muitos anos atrás no "Pobre")

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Santa Cruz de Minas

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Ela o achava pouco para si.
Principalmente, por ser tão cobiçada, desde muito nova e além do mais ter ganhado o Concurso da Garota Santa Cruz de Minas, em primeiro lugar.
Acontece que isso já fazia tempo, e ela cansou de esperar. Deixou de acreditar em contos de fada e de assistir novelas da Globo.
Sabia que o empresário rico carioca não viria mais, e ela continuaria em Minas Gerais, sem nunca ter pisado em Copacabana.
Por isso, aceitou o pedido de casamento. Por pura conveniência, já que ela pagava R$200,00 de aluguel e indo viver com ele não pagaria nada.
Levou junto consigo, seus poucos pertences e um cadinho de estupidez, como se dizia em sua cidade.
Em contrapartida, seu companheiro era generoso, sensível e trabalhador.
Trabalhava na peixaria de  um supermercado considerado grande, se tratando do menor município do país. E toda vez que voltava do trabalho, lhe trazia chocolates em promoção, ou flores barateadas por estarem prestes a murchar.
Mas nunca aparecia de mãos vazias.
Pra ela, nada era agradável, nem a geléia de morango, sua preferida, porque o frasco cheirava a peixe, os chocolates,e as flores também.
Sentia o cheiro à distãncia, e sabia sempre quando ele voltava do trabalho, com 5 minutos de antecedência. Ia dormir cedo, sempre, e antes dele para não se sentir dormindo com um Atum gigante.
Tinha vergonha, quando ia ao mercado  e o via entre sangue e escamas.
Ela sentia falta de sua irmã, que fora morar no Rio de Janeiro e pediu a ele um celular de presente.
Ele sabia que demoraria um ano juntando dinheiro para tal mimo, mas tudo valia a pena por ela. 
Tentado pela vontade de satisfazê-la, foi à Casas Bahia e comprou o telefone.
Só não entendeu por que pagaria, não em um, mas em dois anos.
Entregue o presente, nada de euforia, de recompensadores beijos,apenas um insosso: obrigada!
Não faria festa por um celular que cheirava a Taínha.
Passou a falar sempre com sua irmã. Sobre o desejo de conhecer o Cristo Redentor, sentir a brisa do litoral em seu rosto, pisar em areia branquinha, coisa que nunca havia feito em sua vida. E também, em seu desprazer por estar casada com o homem que não era o dos seus sonhos.
E que cheirava a peixe.
Ele continuava a trabalhar muito e certo dia foi chamado na sala da gerência e promovido a encarregado da Padaria do mercado. Tomou banho no trabalho mesmo, se perfumou, chegou mais cedo em casa.
Dessa vez, sem o costumeiro aroma que alarmava a esposa há cinco minutos de distância. E ele a ouviu ao telefone com a irmã:
- Eu não o suporto! Ele fede a peixe.
Doeu feito punhalada no peito. Ele não pôs os pés em casa neste dia. Nem em nenhum outro.
Passados os dias ela chorou e sofreu.Passados os meses também.
Durante muitos anos sentiu saudades e cheiro de mar.  

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Mais uma inspirada obra ,que inspirou outra obra que me deixa inspirada

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Lindonéia


 

Na frente do espelho
Sem que ninguém a visse
Miss
Linda, feia
Lindonéia desaparecida
Despedaçados
Atropelados
Cachorros mortos nas ruas
Policiais vigiando
O sol batendo nas frutas
Sangrando
Oh, meu amor
A solidão vai me matar de dor
Lindonéia, cor parda
Fruta na feira
Lindonéia solteira
Lindonéia, domingo
Segunda-feira
Lindonéia desaparecida
Na igreja, no andor
Lindonéia desaparecida
Na preguiça, no progresso
Lindonéia desaparecida
Nas paradas de sucesso
Ah, meu amor
A solidão vai me matar de dor
No avesso do espelho
Mas desaparecida
Ela aparece na fotografia
Do outro lado da vida
Despedaçados, atropelados
Cachorros mortos nas ruas
Policiais vigiando
O sol batendo nas frutas
Sangrando
Oh, meu amor
A solidão vai me matar de dor
Vai me matar
Vai me matar de dor

Canção de Caetano e Gil inspirada pela obra de Rubens Gerchman

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Será arte ?

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Provavelmente, depois de viver muito, estudar e escrever bastante eu me debruce sobre meu próprio livro.
É apenas uma idéia longinqua.
O que me fascina e me move, neste mundo, é a beleza da arte. E me pergunto, quem começou tudo isso ???
O primeiro, o cara, que decidiu fazer uma musiquinha aqui, uma esculturazinha ali.
A beleza do desenrolar de novas idéias a partir de uma criação.
Ou, até mesmo, as várias interpretações e possibilidades de uma única obra.
Carlos Drummond de Andrade dizia que havia questão no Vestibular da USP sobre sua obra, que nem ele mesmo saberia responder. Genial!
O post aí debaixo , por exemplo, poesia de Ferreira Gullar com ilustração do Vik Muniz.
Que sensibilidade há em um homem, que no conforto do seu dia-a-dia, desfrutando dos prazeres da vida, consegue lembrar-se da amarga e dura vida daqueles que não tem nenhum desfrute, e que através de sua dor, trouxeram um momento saboroso para o outro?
Essa poesia, tão magnifíca, por sua força e gradiosidade ideológica, tocaria outro grande e sensível artista.
Vik conheceu, quando estava de férias na ilha de St. Kitts, no Caribe, sete crianças de comportamento doce, filhas de pais amargurados que trabalhavam na colheita de cana-de-açúcar. Surgia, assim, “Crianças de Açúcar", e o artista utilizou apenas papel e açucar para obra tão divina.
A arte imita a vida , a vida imita a arte.
A idéia de meu primeiro livro é a idéia surgida de um de meus deleites trazidos da literaura para minha vida.
Será quase uma imitação.
E imitando, mais uma vez, e dessa vez, Geraldo  Azevedo : que afirmou em poesia:
"Quem  inventou o amor teve, certamente, inclinações musicais."
Num repente, amador, digo eu :
Quem a arte inventou, teve inclinações do amor.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O açucar (Ferreira Gullar)

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O branco açúcar que adoçará meu café
Nesta manhã de Ipanema
Não foi produzido por mim
Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro
E afável ao paladar
Como beijo de moça, água
Na pele, flor
Que se dissolve na boca. Mas este açúcar
Não foi feito por mim.

Este açúcar veio
Da mercearia da esquina e
Tampouco o fez o Oliveira,
Dono da mercearia.
Este açúcar veio
De uma usina de açúcar em Pernambuco
Ou no Estado do Rio
E tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana
E veio dos canaviais extensos
Que não nascem por acaso
No regaço do vale.

Em lugares distantes,
Onde não há hospital,
Nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome
Aos 27 anos
Plantaram e colheram a cana
Que viraria açúcar.
Em usinas escuras, homens de vida amarga
E dura
Produziram este açúcar
Branco e puro
Com que adoço meu café esta manhã
Em Ipanema.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

POR QUE ATÉ OS GÊNIOS PODEM SER CANALHAS ??

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EU CARREGO COMIGO A IMPRESSÃO DE QUE ATÉ MESMO ALGUNS DOS GRANDES GÊNIOS, FILÓSOFOS, POETAS, PINTORES CONSEGUEM SER CANALHAS EM RELAÇÃO A NÓS MULHERES.
POR EXEMPLO, PICASSO : FAZIA LINDOS QUADROS RETRATANDO SUAS MULHERES NO COMEÇO DE CADA RELAÇÃO. E COM O PASSAR DOS ANOS AS DESENHAVA COMO MONSTROS.
ENTÃO, ME PERGUNTO, SERÁ QUE NÃO ERA MESMO PABLO PICASSO QUE AS TRANSFORMAVA EM FORMA TÃO HORROROSA ?
NÃO SÓ COMO PERSONAGENS, MAS COMO PESSOAS. QUANDO ERAM SUBMETIDAS A TODAS AS SUAS TRANGRESSÕES E TRAIÇÕES ?
OUTRO É SCHOPPENHAUER QUE EM “A ARTE DE AMAR” DIZ QUE SOMOS SERES INFERIORES,  BAIXINHAS DE ANCAS LARGAS E FEIAS.
MARIO LAGO, POR EXEMPLO, ESCREVEU QUE AMÉLIA NÃO TINHA A MENOR VAIDADE, AMELIA É QUE ERA MULHER DE VERDADE.
E UMA DAS CANÇÕES MAIS LINDAS DO REPERTÓRIO DE MÚSICA BRASILEIRA, QUE SE CHAMA” NÚMERO UM”,TAMBÉM DE MÁRIO LAGO,  TEM UM VERSO QUE DIZ: SATISFAZ TUA VAIDADE, MUDA DE DONO A VONTADE , ISSO EM MULHER É COMUM.”
UM ABSURDO EM CADA PALAVRA. QUEM SERIA NOSSO DONO ?
REALMENTE UMA LINDA CANÇÃO, QUE SÓ ME PERMITO CANTAR  NO BANHEIRO DA MINHA CASA, E QUE, COMO CANTORA,  NUNCA LEVAREI AO PALCO.
O GRANDE NELSON RODRIGUES, DIZIA :
TODAS AS MULHERES GOSTAM  DE APANHAR. SÓ AS NORMAIS. AS NEURÓTICAS REAGEM.
EU DUVIDO QUE NELSON  REALMENTE ACREDITAVA NISSO, E SE ACREDITAVA EU DEFINITIVAMENTE NÃO CONCORDO COM ELE.
ELE DISSE TAMBÉM QUE : “ A MULHER SÓ SE SALVA SE FOR PRO TANQUE. É O TANQUE A SALVAÇÃO DA MULHER”. E NISSO, MESMO EU NÃO SENDO GÊNIA (QUE NÃO HÁ NO DICIONÁRIO), CONCORDO COM ELE.
PORQUE, AFINAL, É LÁ O NOSSO LUGAR.
E A LUTA CONTINUA.