terça-feira, 23 de novembro de 2010

Solitude


Já na desistência de esfregar
As costas não alcançadas
Num movimento brusco mudo o olhar
De foco e reparo as paredes molhadas

Pela janela invade o som das brincadeiras
Das crianças que vem da rua
Alegres canções que não me remetem à nada
Não me levam a lugar algum e não me dizem
Coisa alguma
Então, permaneço fria, crua

Revolvo às amigas paredes que abrigam
O vazio da casa
E percebo que há mais solidão ali
Dentro, além daquela que me arrasa

Escalando com esforço o azulejo
Escorregadio
Um inseto parece também sentir frio

Tem as patas brancas, de um
Branco quase transparente
Parecem frouxas, bambas
Como as minhas tem estado ultimamente

E se o poeta diz que a aranha
Vive do que tece, vivo por um triz
Sempre prostrada, vivo de prece

Depressa aquele ser tão pequenino
Me faz acreditar em destino
Seria destino eu me sentir felizarda
Com o que ele me barganha ?
Me sentir plena e satisfeita em
Companhia de uma aranha ?

Havia formosura no encontro
Eu acompanhava seu trajeto
Como um dedicado arquiteto
Estuda minuciosamente seu projeto

Sob minha vigília quase alcançava sua meta
Eu apertando os olhos, vi algo em sua reta
Seria uma presa ? Não! Se movia
Era uma outra aranha suspensa de forma tesa
Se aproximaram e pareciam conversar
Para minha surpresa

A outra era maior que a minha
E parecia que lhe esperava
Eu, sem mais delongas
Saí do banho que me enrugava

Em meu quarto, ninguém à minha espera
Aberta estava a janela
E pude ver astro que a noite trouxera

Piscando me disse tal brilhante estrela:
- Segue, toma tua engenhosa teia
Mesmo sozinha deves tecê-la

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