quarta-feira, 6 de abril de 2011

Eduardo Galeano


A noite /1
Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada em minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora;mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.

A noite /2
Arranque-me senhora, as roupas e as dúvidas. Dispa-me, dispa-me.

A noite/3
Eu adormeço às margens de uma mulher: eu adormeço às margens de um abismo.

A noite/4
Solto-me do abraço, saio às ruas.
No céu, já clareando, desenha-se, finita,a lua.
A lua tem duas noites de idade.
Eu, uma.

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