quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

"Cuide-se"


O e-mail em que Grégoire Bouillier rompe com Sophie Calle traduzido por T. Pinheiro

Tive medo de responder seu último email, porém sabia que seria muito mais díficil encará-la frente a frente. Por isso, criei “coragem” e decidí escrever; seria mais fácil pra mim.
Você já pôde notar que não estou bem ultimamente. Não aguento mais fingir o tempo todo. Sinto um incômodo terrível, porém minha covardia foi maior e empurrei esta história com a barriga durante todo este tempo.Quando nos conhecemos, você, sabendo do meu duvidoso caráter, exigiu fidelidade. Como bom conquistador apaixonado aceitei tal exigência, mas nâo por muito tempo.
Na verdade achei que conseguiria;amava ser tâo amado por uma mulher que sabia quem eu era. Pensei que sendo amado por uma mulher forte e inteligente, eu poderia me sentir satisfeito.Mas não. Sabia que nem meu trabalho me faria esquecer as “outras”. Não resistí, e em pouco tempo estava eu envolto em outros braços. Tive que esconder, mentí, pois também te desejava e por isso não queria te perder.
Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente.Quando você me disse isso, mais uma vez, tive medo. Estava envolvido por você, uma mulher jovem e desejável, apesar de ainda assim ser muito mais velha que eu. Essa imposição me pareceu desastrosa, injusta (já que você ainda via B., R.,…) e incompreensível (obviamente…).Mas, nosso relacionamento se desgastou, os anos se passaram e você não me parecia tão desejável quanto antes. Por isso, sei que das imposições que você me fez, deixar de ser seu amigo será a única que poderei cumprir e de bom grado.Claro que eu prefiro que você me ame o resto da sua vida, faria muito bem ao meu ego, mas com certeza este amor não me faria voltar atrás.
Cansei da farsa, depois deste email você deve saber que para nosso caso nâo há remédio.Mesmo com você ainda me amando tanto. Não me pergunte porque este surto de sinceridade, sabemos que os homens não são sinceros.
Óbvio que eu preferia sair da história como bom moço, mas, desta história eu não fui o autor e não pude dar um rumo diferente a ela.

“Cuide-se”

Para Lucilene

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